quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Conversas com James McSill

Eliane Accioly - Dez 2008


Ando conversando com a Eliane Accioly.
A Eliane me submeteu um de seus contos para que eu desse a minha opinião.
Ela, como eu, reagimos a chibatadas críticas com um ímpeto de criatividade.
Aconteceu assim...

Parágrafo original:

Até que a vida nos separe?

De: Eliane Accioly
eliane@acciolyfonseca.psc.br

Transarei loucamente com a desconhecida e nunca mais a verei. Só então estarei a salvo da fissura que me devora, entidade furiosa serpenteando em mim, prometendo-me liberdade se cumprido o ritual. Apesar de meus talentos com o sexo oposto, não consigo. Atrair estranhas é fácil, o problema? Falho nessas situações, é mais forte que eu. Se as reuniões ganham seqüência - conversas, refeições compartilhadas, troca de livros, compareço firme e correto. Ganho uma amiga que eventualmente se apaixona e perco o mistério, concorda? De onde tirei tal maluquice? Quem sabe do jardim de mulheres proibidas que rodearam meu amanhecer? Lindas, macias ao toque, cheirando a pomar e romã - irmãs, primas, tias, madrinhas. [...]

Quando li, permaneci sem opinar...
Pedi que ela me enviasse o argumento.

Argumento :

Olá Jamie, [...]

Este conto é a respeito de um homem que tem uma fantasia compulsiva: transar com uma desconhecida, e nunca mais vê-la. O mesmo homem também tem a esperança de que, caso isso aconteça, ele possa se ver livre da compulsão que o eletriza e fascina, mas o consome de tal forma, que prejudica sua vida prática, seus projetos afetivos, de trabalho, e os de ter uma família.

Achei o argumento fascinante, mas o texto acima, que ela me enviara, não fazia jus à idéia maravilhosa.
Foi uma chibatada fácil! Confessei para a Elaine que não havia entendido o texto inicial. A Eliane é poeta e o texto mostrava uma prosa poética, a meu ver, desnecessária, pois obscurecia o argumento de boa qualidade.

Trocamos mais e-mails em que lhe disse que, se quisesse que o texto tivesse apelo mais universal, deveria re-rescrevê-lo como se falasse com UMA pessoa, uma apenas, da idade, sexo e níveis cultural e social para quem quisesse dirigir a escrita.

Esta é a primeira pregunta que todo escritor deve se fazer: "Para quem estou escrevendo?" Se a resposta for "para mim mesmo", o que quer que esteja escrevendo passa a ser um diário, diários raramente têm valor comercial, exetuando-se, claro, diários de celebridades e afins, destes a gente sabe, até um pedaço de roupa suja vende. A resposta deveria ser: "estou escrevendo um conto (romance, etc) para..." e descrever o leitor (?imaginário) em pormenores. Quando temos um leitor específico em mente, ajuda-nos a focar o texto, da uma voz ao contador da estória. Interessante é que jamais contaríamos "A Gata Borralheira" para uma senhora, avó, física nuclear aposentada, seis livros publicados do mesmo jeito que contaríamos para uma menina de cinco anos, no pre-primário, bailarina. E quantos escritores conheço que "escrevem para si mesmos"...
Por que somos tão egoístas na hora de escrever?
O "fazer bonito" é garantir que a nossa audiência nos entende...

E foi o que a Eliane fez!
Contou o conto para mim.
E olha o resultado!
Quem tem talento como a Eliane, aceita o desafio e supera todas as expectativas.


Até que a vida nos separe

Conheci-a em um bar onde homens e mulheres solitários vão se distrair da angústia da própria solidão. Em Virgínia havia o mistério que me atrai nas mulheres. “Pisca para mim”?! Perguntei-me emocionado e curioso, prisioneiro daqueles olhos semicerrados, dos lábios de meio sorriso esboçando um chamado sem palavras: “Venha!”
Obedeci prontamente, paguei a conta e, ainda sem nos falarmos, a puxei pela mão, saímos juntos, entramos no hotel do outro lado da rua, pedi um quarto.
“Enfim sós”
Descompassados de desejo despimos um ao outro, frenéticos. Estava certo que naquela mulher escondia-se a desconhecida com a qual ansiava transar loucamente. Após a relação amorosa eu a deixaria para nunca mais revê-la. Precisava deste ritual para me curar. Se conseguisse penetrar na linda e misteriosa mulher estaria livre para viver minha vida, liberto do delírio que me acompanha desde a adolescência, “fissura que me atormenta e me rouba o sossego, atrapalha meu trabalho, me impede de formar uma família”. Possuir Virgínia, a desconhecida, apagaria o delírio, brasas na água, tinha certeza! [...]

Parabéns!

Se não concordar comigo, me escreve.
james.mcsill@gmail.com

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