Ao perceber o engodo, pedi uma batida de limão para rebater a danada.
Conto:
Foi na terça feira.
Hoje, sexta, pareço a sereia de quem a bruxa roubou a voz.
A gripe se transvestiu de mulher _ loira, vestida de seda azul, sapatos dourados.
Eu lá no Largo do Arouche, a confundo com uma amiga de infância, a Regina. Nos abraçamos como se ontem. Não nos víamos há vinte anos. Regina, a furtiva, me prestou. Caminhamos entretidas de braços dados até o Viena, para tomar um chá, como antigamente.
Quando me dou conta, Regina se esvai em fumaça, deixando-me um cálice de ouro transbordante de licor de anis. A cor, o aroma. Impossível resistir, adoro licor de anis, me abri ao sabor, aroma, cor _ engoli, não como remédio, prazer cem por cento algodão.
O adoravel líquido não era anis nem licor, mas dona Gripe, engolida por mim gota a gota. Eu a otária, a crédula, enfim...
A Gripe entra, rasga-me a garganta _ suas garras venenosas no princípio nem percebidas, talvez percebidas como o toque de um amante, um tanto luxuriante.
Aí doeu. Foi quando pedi socorro à Batida de Limão, que com todo seu desejo de me socorrer, pouco fez. Não exorcizou a bruxa, pelo contrário, sentiu-se humilhada e frenética, tentando se justificar, invocando a ala das mulatas e pandeiros de escolas de samba.
Caí na cama, no lugar de cair no samba. Semana depois me reergui das cinzas, Fenix, sobrevivi.
sábado, 3 de julho de 2010
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wonderful
ResponderExcluirWork
good
sources
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Inspiration
Percebo uma enorme riqueza neste texto aparentemente simples. A gripe transvestida de mulher e comparada a uma amiga de infância... Precisa ser de autoria de Eliane Accioly. Coisa linda, sô!
ResponderExcluirMaria J Fortuna