Uma crônica
Neste agora ela é mais esquecimento
que lembranças. Do que se lembra? Do que se esquece? A sensação regente é real,
como o vento que entra pela janela aberta. É como uma notícia que chega e conta
que ela se esquece de expressões e palavras de sua infância, regionais, há
pouco frescas como fruta ao ponto de comer em pé de árvore, ao alcance. O
esquecimento a esvazia. O silêncio traz o oco fundo. Escorrega em paredes duras
e arredondadas, e as abençoa, sentindo-se abençoada. Não ser o que foi a desconcerta e a
desconhece de si e dos outros. Vagas
nostálgicas batem nela e a arrancam da falésia onde se agarrava. Em seu corpo nascem guelras e barbatanas. Em
seus sonhos cobras deixam para trás as velhas peles, e um pardal se incendeia e
renasce. Estranha suas filhas, três
mulheres desconhecidas como ela mesma, ou seja, como ela-outra.
Três vezes ao dia os ponteiros do
relógio são uma linha reta tendendo ao infinito, apenas por um instante.
Gosto da sensação de infinito...
ResponderExcluirUm grande bj querida amiga, lindo texto.
Amiga Eliane, lembro-me que quando criança, a ideia de infinito assustava-me. Assustava muito.
ResponderExcluirUm abraço. Tenhas um lindo fim de semana.
Belíssimo texto! um tanto angustiante mas amenizado pela metáfora do relógio como paradígma da busca do infinito.
ResponderExcluirUm abraço