sábado, 21 de fevereiro de 2009
No salão de beleza situado na casa onde, outrora, morou dona Solange, na Rua Brasil Accioly, Araguari, Minas Gerais, mulheres das mais variadas idades se aprontam para o casamento. A varanda da casa (borda leitosa entre o dentro, o fora, e o tempo) me acolhe. A sala cheia de ruídos, cheiros, cores, secadores, rolar de escovas e risos, cabelos secos e molhados, calor dos corpos no rosa difuso das paredes, guarda o presente.
Lá longe, a linha curva e infinita que na recém noite se estreita e abraça a cidade, torna-se a passarela onde desfilam os avós, o pai, tios, alguns primos, dona Solange e o doutor Belizário, o irmão Brasil Junior, os amigos Álvaro Sérgio e Janice _ silêncios doces e pungentes.
Escorridos e crespos os instantes me enlaçam. Sou apenas um pontilhado azul escuro _ aqui, e naquele horizonte.
Na sala adivinho a noiva, as primas, as filhas, as netas.
Em minha ausência a vida segue barulhenta, embora, como os que se foram, sem ser aqui apenas, e estando lá, eu seja parte.
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