sábado, 21 de fevereiro de 2009



No salão de beleza situado na casa onde, outrora, morou dona Solange, na Rua Brasil Accioly, Araguari, Minas Gerais, mulheres das mais variadas idades se aprontam para o casamento. A varanda da casa (borda leitosa entre o dentro, o fora, e o tempo) me acolhe. A sala cheia de ruídos, cheiros, cores, secadores, rolar de escovas e risos, cabelos secos e molhados, calor dos corpos no rosa difuso das paredes, guarda o presente.
Lá longe, a linha curva e infinita que na recém noite se estreita e abraça a cidade, torna-se a passarela onde desfilam os avós, o pai, tios, alguns primos, dona Solange e o doutor Belizário, o irmão Brasil Junior, os amigos Álvaro Sérgio e Janice _ silêncios doces e pungentes.
Escorridos e crespos os instantes me enlaçam. Sou apenas um pontilhado azul escuro _ aqui, e naquele horizonte.
Na sala adivinho a noiva, as primas, as filhas, as netas.
Em minha ausência a vida segue barulhenta, embora, como os que se foram, sem ser aqui apenas, e estando lá, eu seja parte.

REBRA

Sou membro efetiva da REBRA (Rede de Escritoras Brasileiras), organização não governamental, sem fins lucrativos, que pretende reunir em associação o maior número de escritoras de nosso país que tenham compromisso público com a literatura, a cultura e a justiça social, tendo como sócias honorárias grandes escritoras como Nelida Piñon e Lygia Faguntes Telles.

A idéia pioneira foi da fundadora e presidente da REBRA, Joyce Cavalccante que, além de excelente contadora de histórias – escreveu entre outros, o romance “O Cão Chupando Manga”. Joyce nos leva para o mundo. Temos representantes da REBRA em países europeus, como Noruega, Itália, Portugal, Espanha, Inglaterra, outros, nos Estados Unidos, na América Latina, uma vasta lista.

Através da REBRA faço parte da RELAT, Rede de Escritoras Latino Americanas. Estive no México, no XI° Encuentro de Mujeres Poetas en el Pais de las Nubes, em 2003, como representante da REBRA e do Brasil. Participei de diversas antologias, que levam escritoras brasileiras a outros países. Faço parte de dois programas de intercâmbio com a Universidade de Miame. O primeiro com a professora Dra. Paula Gandara, e agora ingresso no programa do professor Dr. Steven F. Butterman. São intercâmbios entre escritoras brasileiras, e estudantes americanas, que cursam na universidade a cadeira de Literatura Feminina Brasileira.

Nesses projetos uma estudante americana e uma escritora brasileira se correspondem via net. O objetivo do intercâmbio é levar informações acerca de questões raciais, de diferenças sociais, da posição da mulher no Brasil, das diferenças entre classes e oportunidades, das gerações e gêneros, e outras, que ocorrem aqui, no Brasil (e com certeza, em todo o mundo). Um olhar sobre o Brasil, e como não podia deixar de ser, um olhar da escritora sobre o país (e a vida) de sua correspondente.

Através da REBRA encontrei Kyanja Lee e James McSill, intersessores queridos, que muito têm contribuído para meu crescimento. Os dois estão vinculados a este blog. São interlocutores preciosos para quem quiser se aprimorar na arte de tornar seu texto publicável. Tanto Kyanja como James me ajudam a sair do escrever para mim mesma, para escrever para um outro. Pensar: para quem escrevo? Qual será meu leitor? Trata-se de uma descoberta fantástica! (Entrem em contato com eles, e descobrirão por vocês.)

Estar na REBRA é uma maneira de andar em bando, de não ficar sozinha. Na REBRA ninguém fica quieta num canto, participa ativamente, é convocada a cada instante.

E por falar nisto, estamos comemorando 10 anos de existência.

Viva a REBRA!!!!!!!!!!!!

Darei notícias de nosso aniversário no blog. Mil planos que serão postos em prática.

A REBRA fala e faz.

Parabéns, Joyce Cavalcante, parabéns a todas nós que estamos na REBRA.





narciso mergulha n’umbigo
e insiste

: espelho espelho deus
existe alguém no mundo?

Poema de Líria Porto