sábado, 24 de setembro de 2011

A dança dos nomes: conta o atravessador

O nome do pai, o nome da mãe. Para homens e mulheres há a escolha do nome. Como aconteceu na história familiar? O crescimento, infância, adolescência? Muitos homens escolhem/adotam o nome materno. Afinidades com a família da mãe? Peculiaridades, cada qual com a sua? No meu caso, meu pai me registrou apenas com o nome dele, embora o casal fosse unido; eles se amavam...pelo que sei :)... Fui a primeira filha.
No começo de minha vida, Eliane Maria Accioly: EMA. Uma ave do cerrado, da família do avestruz.
Em meus livros tive a fase de assinar Eliane Accioly Fonseca.
Depois, Eliane Fonseca. E agora, Eliane Accioly, meu nome de guerra, artístico, aquele com o qual me responsabilizo sem ter que prestar satisfação. São sentimentos, não os outros em si; eu mesma. Enfim... enfim... sempre me impressionou e alegrou a possibilidade de escolher o nome. Aborígenes da Austrália, homens sábios, na descoberta se seus talentos escolhem o novo nome. Tão longe e tão perto de nós. Afinal, humanos. Axé.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Lançar um livro

Talvez pelo advento da internete, ou talvez por ter vivido algumas experiências de lançar um livro, cada lançamento tão especial para mim, embora tão diferentes!
O que quero dizer, porém, não tenho sentido vontade de escrever livros _ juntar material em um livro... e muito menos  lançá-los. Por outro lado, participo de algumas antologias: pela REBRA, Rede de Escritoras  Brasileiras; pela AbrAce, de Nina Reis e Roberto Bianchi, ela brasileira ele uruguaio, e assim, edições bilíngues, com os trabalhos das autoras nos dois idiomas, espanhol e português; e pela Editora Mulheres Emergentes, de Tãnia Diniz; vivo experiências muito importantes no contato com os editores e  poetas.
Esta linda capa e belíssima edição é da AbrAce.
Gosto deste ciclo de coletividade, admiro o trabalho das poetas com quem compartilho e divido o espaço: cada qual com suas páginas.
E la nave vá...

Parcerias com a Editora Mulheres Emergentes, Belo Horizonte, MG, de Tânia Diniz


É muito bom ter parceiros, amigos, cúmplices.Tânia Diniz é isto para mim. Ela representa muito para a poesia e literatura brasileiras. Mineira de Dores do Indaiá, não para nunca, dissemina a poesia pelo Brasil e pelo mundo. Tem o Jornal Mural "O sensual em cartaz"; apesar do nome "Mulheres Emergentes" publica e divulga mulheres e homens; promove concursos para autores nacionais e internacionais; tem parceiros e divulgadores espalhados pelo mundo. Sou sua maior fã. O link para seu blog está na primeira página deste blog.

sábado, 17 de setembro de 2011

Aula de Pintura _ uma crônica

Meu professor de pintura me diz que sou uma aluna intuitiva. E pouco disciplinada. Preciso aprender a "ser lógica" para deixar de destruir quadros que faço durante a aula; pintar e desmanchar o que pintei pintando outro quadro sobre aquele. Que desperdício de energia, pensei.
_Ser cartesiana? _ lhe pergunto.
_ Por que não?! Não sei que curso você fez contra o cartesianismo.
_O de estar casada com um cartesiano, o que meu marido diz ser, há tantos filhos e netos.
Conto ao marido cartesiano o impasse, e ele responde:
_ Antes de Renée Decart houve um cartesiano _ Leonardo Da Vince.
_ Leonardo?! (me espanto).
_ Como não? Da Vince foi pintor, desenhista, pesquisador, cientista.

Não pude deixar de concordar. Concluo: fronteiras rígidas precisam ser derrubadas. Apenas as rígidas. Ainda não sei o que é isto. No entanto, é o que venho fazendo, venho derrubando fronteiras; as rígidas. Meu mestrado e doutorado: _ "A palavra in-sensata, poesia e psicanálise" e "Corpo-de-sonho, poesia e psicanálise". Que coisa, não desisto. Aliás, como no I Ching os elementos se permeiam, o dia e a noite, o café e o leite...Sou ou não cartesiana?

Pintura, aulas

Ainda trabalhando.
Não pronta.
Como eu.

falando devir

Tela não acabada, não pronta.
Pintar traz problemas que precisamos  resolver. Fundamental "encontrar" soluções.
Como na matemática.
Haroldo de Campos, professor e mestre dizia que a poesia se aparenta à matemática. Ou o contrário. Quando visualizar a solução e a realizar, envio a futura foto aos meus queridos blogueiros.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Gata Olímpia e Amanda

Diálogo da tela entre diferentes momentos/tempos







A imagem  abaixo data de 2008; a acima, de 2010.




















Tela retrabalhada/dramatizada. Um corpo, o suporte/tela em dois tempos diferentes. Foi estranho fazer isto, e mais estranho vizualisar os efeitos nas duas fotos. A "tela" abaixo" não mais existe?" Só em arquivos/bancos de imagens?
Os "figurantes", personagens de "Teresa na Confraria do Lixo", livro que provavelmente nunca virá à tona, e nem será publicado; a não ser em capítulos/contos isolados.
Algunus deles se encontram publicados virtualmente em meu site no "Recanto das Letras".

Ensaio de fotos _ contando aos blogueiros

As fotos de meus trabalhos _ quadros e/ou pequenas esculturas _ de os atravessadores, os personagens, são do fotografo Rogerio Albuquerque. Na última sexta feira, 9 de setembro, tivemos mais uma sessão de fotos. É trabalhoso, como não poderia deixar de ser, compensa, tenho meu trabalho atualizado. Aos poucos irei postando fotos dos trabalhos.

Atualizei a foto do perfil... :)
Abaixo foto de trabalho em papel de algodão, acrílico, agosto de 2011. Sem título.


 


Deixo aqui seus dados:


Rogerio Albuquerque Fotografia


http://www.rogerioalbuquerque.com.br/

rogerioalbuca@uol.com.br

11 9218-3577 11 3673-2488

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Exposição Pinacoteca de Saul Steinberg _ "As aventuras da linha"

Vale a pena, Para Steinberg desenhar é como escrever, e ele desenhava para "explicar" o mundo e o cotidiano para ele mesmo... Estive lá e fiquei encantada; alías, em encantamento.
Vale a pena!

http://www.elianeacciolyfonseca.recantodasletras.com.br/

Untitled. 1948

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Não mais posso perder

Meu pai se foi, e a morte de minha mãe me deixou duplo órfão. Susi e Aliguiere, minha irmã mais velha e meu cunhado me acamparam e criaram. Partindo os dois  fiquei sozinho até encontrar Rose.  Encanto e amor nos casamos. Três filhos. O primeiro veio com ela, de outra união. Quando Rose se apaixonou por Pedro e  comunicou que me deixaria não suportei. Muita conversa diasdias turbulentos noites insones. Ficamos juntos. Nós  três.












sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Poema de Líria Porto


à conterrânea eliane accioly 

                              líria porto




somos tal e qual
tu lapidada - eu pedra bruta

seria a boa água da terrinha?

Artigo nascido de minha ida ao México, para o XI° Encuentro de las Mujeres Poetas en el País de las Nubes _ que linda experiência!




México _ um país onde riquezas e diversidades culturais e temporais  coexistem

As lembranças de viagens se transformam em relatos e outros pensamentos:

                                           “Este país é, talvez, menos mágico e menos homogêneo do que quer a lenda. Como corresponde a uma sociedade de tantas culturas, há aqui múltiplas formas de fazer frente à morte dos seres queridos, ao sofrimento da agonia, à vertigem do desconhecido. De que maneira os esqueletos e caveiras se converteram em signos do nacionalismo mestiço? Como chegaram os mexicanos a persuadir-se a si mesmos de que tinham com a morte uma relação de privilégio?” (Artes do México, Risas e Cavaleras, n°67,  pg56/57,  2003)


Essa contribuição modesta e breve é feita de reflexões, observações, leituras, visitas ao México, vivências, e o acesso relativo a algumas das tradições mexicanas.

O México é um país muito especial e misterioso. Otávio Paz, de certa forma, compara o México à Índia, pela multiplicidade de tradições que existem em ambos os países, embora, evidentemente, bastante diferentes.

No México de hoje em dia, há mais de cinqüenta idiomas vivos, remanescentes das antigas tradições autóctones, como a Tolteca, a Mixteca, entre outras, povos anteriores aos astecas. Estes, dizimados pela invasão espanhola. O México invadido e devastado nunca foi, no entanto, completamente colonizado. A cultura espanhola e européia tornou-se parte imorredoura das raízes mexicanas, porém, é uma entre outras das inúmeras tradições desse povo. As tradições ancestrais sobreviveram escondidas, transmitidas oralmente de geração para geração.

Os livros de Carlos Castaneda são uma das fontes de informação da tradição tolteca, transmitida às linhagens de pessoas, não necessariamente mexicanas, pelo menos nos últimos tempos. Essa transmissão, no entanto, cria uma espécie de família não consangüínea, de laços muito fortes, porém, laços de linhagem de uma aprendizagem de outros jeitos de ver e estar na vida. Outras concepções de vida. Carlos Castaneda abriu a possibilidade de que muitos pudessem conhecer o que antes era restrito a pequenos grupos. Além dele há outras fontes vivas de transmissão, agora abertas às pessoas que as procuram, uma das características de nossa atualidade.

Quem entrar no Museu do Homem, na Cidade do México, poderá se maravilhar com o espaço dedicado à Cultura Tolteca, anterior à Asteca.

Estive no estado de Oaxaca, no “XI° Encuentro de las Mujeres Poetas en El País de las Nubes”, em 2003, quando ouvi poemas declamados na língua mixteca. Naquela ocasião visitamos pueblos, e tivemos a experiência de ouvir outros idiomas falados e vivos. Estivemos em escolas e nos reunimos e trabalhamos com alunos. Os idiomas (ou a linguagem) bastante amplos, são feitos também de danças, cantos, apresentações, roupas, e não só de palavras.  Fomos agraciadas com vários espetáculos, apresentados por grupos de jovens.

De nossa parte oferecemos poesia nas escolas, em praças públicas, em ruínas astecas, em igrejas. E também oficinas de poesia. No idioma mixteca, a palavra Mixteca quer dizer Pais de las Nubes.

Para chegar ao estado de Oaxaca tomamos um ônibus fretado, que partiu da Cidade do México, que encontra-se por volta de 3.000 metros acima do nível do mar. A região que atravessamos subia em altura, à medida que seguíamos. O nome País de las Nubes vem dessa altitude elevada. Nessa região as nuvens ficam muitas vezes à nossa altura, e nós as atravessamos. Nessa viagem em direção ao sul do México, encontramos ampla região semi árida onde só víamos altos e fantásticos cactus: uma floresta deles. Fiquei em transe.

Esses encontros são organizados pelo poeta Emilio Fuego, ajudado por poetas espalhadas pelo mundo, entre as quais a poeta mexicana Lina Zeron. E pelo povo do estado em que vive: Oaxaca. No encontro do qual participei éramos 40 poetas, de várias nacionalidades e línguas. Apesar de estarmos no México, entre as poetas a língua na qual conseguíamos nos comunicar foi o Inglês. Embora meu portunhol tenha me ajudado com as poetas de língua espanhola.  Com o povo não, me comunicava com a língua corporal e mímica universais. Líamos os poemas na língua materna de cada uma, e uma poeta de língua espanhola os lia para nós. Assim, ouvimos poemas em Danez (Dinamarca), Hebraico, Inglês, Mixteca, Português, além do Espanhol.

O objetivo de Emilio Fuego com esses encontros que se repetem a cada ano é levar a poesia para os pueblos de sua região natal, e onde ainda vive, a região chamada de Mixteca pelo povo mexicano, no estado de Oaxaca. Segundo Emilio e o depoimento das pessoas locais, esses encontros fazem toda a diferença, porque poesia não se ensina, mas contagia. Nos pueblos visitados pelas poetas as pessoas são sedentas de poesia. O México que visitei é um país de poetas anônimos, que poderão deixar de ser anônimos, devido à qualidade de sua poesia.

Frida Khalo, pintora mexicana, uma artista da qual estou próxima por meu interesse, curiosidade e vontade de aprender, nos mostra com seu trabalho e idéias a complexidade de seu país.  Seu pai era alemão, sua mãe mexicana, descendente de índios. A pintora teve uma ama índia, que retrata em “Minha Ama e Eu”, ou “Eu Sugando”, (1937, óleo em metal, 30,5x34,7 cm, “Museu Dolores Olmedo Patiño”, Cidade do México). Frida Khalo era muito ligada ao pai, e com certeza, à tradição alemã-europeia. Frida, por exemplo, era marxista militante, embora não materialista. Para Frida o mundo era vivo, ela estava em contato com a Terra, o Sol, os seres vivos, fossem humanos, animais, plantas. A tradição autóctone lhe foi transmita mais fortemente por sua babá que pela mãe. Transmitida com o leite e contato corporal, a fala, e provavelmente cantigas e histórias em algum dos idiomas autóctones, o da ama. Quem sabe, a cultura Tehuana? Khalo em fotos e auto retratos aparece vestida no tradicional traje de uma dama Tehuana.

A exuberância dos quadros de Frida, na minha modesta percepção, não vem da Europa. Frida foi uma artista auto-didata, e o que em sua obra se assemelha ao surrealismo, penso eu, é uma explosão de sua sensibilidade, de sua ligação com a Terra, o Sol, o firmamento, que em sua pintura e diário ela trata como deuses. E, evidentemente de seu enorme talento pessoal.

A morte para o mexicano

Me intriga no México, o contato que o mexicano tem com a Morte. Morte, com letra maiúscula, personagem que aparece sob formas jocosas: andando de bicicleta, a cavalo, com máscaras sorridentes, saindo de flores ou de ovos parecidos aos nossos ovos de páscoa, casais de noivos, nua ou vestida variadamente. São objetos feitos de lata, pequenos ou grandes. Há também doces com o formato de ovos, com a (s) cara (s) da Morte. Os mexicanos que conheci usam tais objetos de lata para enfeitar suas árvores de natal.

No México fomos hospedadas por pessoas de diferentes classes sociais. Todos nos davam o que tinham de melhor.  A viagem terminou em Oaxaca, cidade próspera e rica. Na casa de uma matriarca comi pela primeira vez, frango com molho de chocolate, um prato típico. Oaxaca, para meu encanto, foi um dos lugares em que Don Juan e Carlos Castaneda se encontravam.

Em um afresco de Diego Ravera, “Sonho na tarde de um verão”, (in Parque Alameda _ 1947-48) a Morte aparece vestida como dama requintada, entre uma multidão de pessoas, na qual encontram-se Frida e o próprio Diego, pintado como um menino. Diego foi marido e a grande paixão de Frida Khalo.

O dia dos mortos, 2 de Novembro, em finados, tem no México um significado diferente do que para nós, aqui no Brasil, quando comemoramos e lembramos os nossos mortos. No México, finados engloba os mortos familiares, mas os transcende, porque é um dia que se comemora principalmente a Morte, como uma existência, uma presença. É um dia de festa, comilanças, procissões de pessoas festivas, vestidas em suas melhores roupas.

Não é que não haja dor pela perda de pessoas queridas. A dor é humana, e está em todos os lugares. Mas no México, dia 2 de Novembro, a dor aparece barulhenta e festiva, gulosa de guloseimas, como doces e chocolate.

Na transmissão de Don Juan Matos, o mestre de Carlos Castaneda, cada um de nós nasce com sua própria morte. Segundo o cristianismo nascemos com nosso Anjo da Guarda. Pela sabedoria tolteca nascemos com nossa Morte, que fica ao nosso lado esquerdo e nunca nos toca, a não ser quando morremos. Mas para Carlos Castaneda, (para mim o Platão dos nossos tempos, enquanto Don Juan fica para mim como o Sócrates contemporâneo), a Morte pode e deve tornar-se nossa aliada. Para isso é necessário um trabalho de autoconhecimento que dura toda a vida. A Morte como aliada estará sempre nos lembrando que não somos eternos, e não temos muito tempo. Por isso, precisamos aproveitar nosso tempo de vida com todo nosso afinco. Quando a Morte se torna nossa aliada, antes de partirmos com ela, dançamos para ela a última dança.