quarta-feira, 11 de abril de 2012

Da série: poema inútil

(Atravessadora, uma paloma, de Eliane Accioly)
















Da série poema inútil



Ser poeta é enlouquecer mais um pouco,
é enxergar nas ruas o rastro branco e preto dos automóveis,
alheio à dança dos pedestres,
é desenhar a elegância trôpega do mendigo

em seu desamparo e sua solidão,
é doer pelo que não posso mudar,
é criar parcelas de mundo

Ah, ser poeta é tragédia tragicômica,
porque  preciso rir, principalmente de mim,
é não ter o cabelo penteado
e andar vez por outra, descalça,
na Avenida Paulista

Ser poeta é escrever por eleger um destino
e quem sabe? Também ser escolhida?

Não preciso de partido político para pertencer à resistência, porque o poeta não é doutrinável,
ser poeta é descobrir que a poesia é política ética e feroz,
é ter no coração uma biga,
pois, ser poeta é pertencer a legiões rebeldes,
sabendo-se minoria absoluta

Para Aziz Ab´Saber, meu professor de geografia


Foto de Paula Marcondes, em algum lugar da Ásia






















Ser poeta é atávico, como ser mãe

O poeta tem nele o lagarto e o pássaro,
as camadas tectônicas e os sambaquis
a criança e o velho

O adulto é sério demais