sábado, 5 de maio de 2012

Roberto Bolaño, "2666".

(Imagem do acervo pessoal: Escultura de arame e capsulas de nescafé, Eliane Accioly, Título, Atravessador em Viagem)



















Resenha de Eliane Accioly

Originalmente, pela vontade do autor, o livro sob o nome de "2666" seria publicado em cinco diferentes livros ou volumes. Lançado após a morte de Bolaño, surgiu como um livro de cinco capítulos. Obra de arte literária única, eu diria, cada capítulo constitui em si um livro. Os personagens transitam nos diferentes livros/capítulos, em diferentes épocas de suas vidas, e uma cidade vai se constituindo como o lugar/espaço reunificador das narrativas. Narrativas no plural porque a escritura de Bolaño, neste livro, é voluntáriamente fragmentada, feita de muitos fios, sem que nos percamos, e se sim nos perdemos, podemos nos reencontrar, e novamente nos perder. Digo voluntária porque Bolaño sabia passo a passo o que fazia. Um de seus recursos é quebrar a todo momento "o muro negro que separa o sonho da vigília"; ou desmanchar as fronteiras entre a sanidade e a loucura.

O personagem chave é o escritor Benno von Archimboldi, candidato ao Nobel, figura mítica e histórica, no livro, e o ídolo de alguns críticos, que o tornam o leimotiv de suas vidas. Em torno de sua obra gravitam a vida de, pelo menos, quatro críticos. Archimboldi, em cuja história inicial (no último capítulo), como nascimento e infância nada nos levaria a crer que seria o escritor do porte em que se tornou. Nasce Hans Reiter, na Baviera, e luta na segunda guerra mundial. Hans Reiter e seus parceiros de fileiras, não tinham a menor ideia do que ali faziam. Archimboldi, o eterônimo de Bolaño?

Descobri Roberto Bolaño lendo este livro, embora já houvesse escutado acerca do escritor chileno, morto prematuramente, talvez, das consequências de hepatite C.

Estando no Chile durante a queda de Allende pelo golpe militar, Bolaño foi preso, não por pertencer a algum partido, mas ser tido como suspeito; era um pensador, um artista, escritor. Na prisão apenas não foi torturado porque três carcereiros haviam sido seus colegas de classe, em sua infância e adolescência. Mas escutou os gritos dos que eram torturados. Os colegas/amigos conseguiram libertá-lo, e ele se exilou. Em Barcelona conheceu uma catalã, com quem se casou. Tiveram dois filhos. Bolaño dizia que a única pátria que conhecia eram sua mulher e seus dois filhos.