sexta-feira, 31 de julho de 2009

Carta para quem chegar ao blog, e aos "seguidores"

Quantas cartas escrevi, quantas recebi. Uma delícia abrir um envelope. Cartas de amigos, de tios e tias, primos e primas, amigos, cartas de amor. Ah, que delicia as cartas de amor. Queimei cartas de amor, acreditam? Para não deixar pegadas, pistas... Para ser invisível!!!!!!!! Que horror queimar cartas de amor, e mais ainda, ser invisível... A gente acaba não se enxergando, onde é mesmo que estou?! Quem sou?! Credo!!!!!!!!! Só não me arrependo de ter queimado cartas de amor porque as lembranças dos amores permanecem naquele lugar misterioso que chamamos memória. Agradeço às memórias. Um templo que frequento. O templo de minhas memórias.

Sou do tempo das cartas que chegavam pelo correio, dos selos preciosos, coloridos, artísticos. Das letras ímpares. Cada qual com seu traço, impressões digitais. A letra e a voz do autor que podia ouvir lendo a carta. Os dois rios paralelos, o desenho gráfico da letra, e a música da voz, os dois rios se juntavam, se juntariam ainda, se recebesse uma carta.

Escrevia para minhas avós, que moravam em Araguari, Minas Gerais, quando eu estava no internato, no Colégio Assumpção, em São Paulo. Cartas deliciosas, nas quais contava... bem, contava o que eu podia... Uma de minhas avós me disse um dia que adorava receber minhas cartas... nelas eu sempre estava alegre... Pois bem, eu "mentia" (nas cartas me dou conta, eu era um simulacro de mim), pois nem sempre estava alegre, e muitas vezes, no colégio, chorava. De saudades, de prisão (pois num colégio interna, estava mesmo presa...), por ser adolescente, por me sentir perdida num mundo que não conhecia, pois não conhecia nem eu mesma. E ainda hoje estou nas bordas de me conhecer, embora mais a vontade em meu corpo e em minha vida.

Agora escrevo a vocês.

Todos os dias agradeço por mais um dia. Agradeço o sandwiche de pão de centeio com queijo derretido e salaminho recém partido, que acabei de devorar. Com um copo de vinho tinto. Agradeço pela companhia de Josino, meu companheiro. Agradeço a alegria de estar aqui escrevendo, o riso que vem e solta os músculos de meu rosto. Agradeço por pensar, sentir e me emocionar, pelas palavras fluirem como agora. Agradeço estar com vocês aqui e na vida.

Que mistério tudo isso. A mesa, o computador, a tela, as letras, o sangue que flui em mim e me aquece. O xale verde ridículo, meu companheiro nas noites de frio. Meu objeto transicional, como o coelhinho do bebê. Que maravilha dizer bobagens, como nesse momento.

Um grande beijo e muita gradidão,

Eliane

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